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Hyperion – Dan Simmons (Resenha do Livro)

Hyperion – Dan Simmons (Resenha do Livro)

“É o vigésimo nono século e o universo da Hegemonia Humana está ameaçado. A invasão dos belicosos rebeldes Ousters se avizinha; e os esquemas misteriosos da separatista I.A. TechnoCore aproxima o caos ainda mais.

Na véspera do desastre, com a galáxia em guerra, sete peregrinos embarcam em uma viagem final rumo as fabulosas Tumbas Temporais em Hyperion, lar para o Shrike, uma criatura letal, parte deus e parte máquina de matar, que os poderes transcendem os limites do tempo e do espaço. Tal qual outro renomado grupo de peregrinos, cada viajante compartilha sua história com seus companheiros, procurando respostas para charadas irresolutas de todas as suas vidas. E eles decidiram morrer antes de descobrir nada menos que os segredos do próprio universo”

Hyperion de Dan Simmons é um daqueles livros que sempre ouvi falar muito bem, que era um dos “livros obrigatórios para quem gosta de ficção científica“, mas que nunca tive a oportunidade de ler. Não existir uma edição nacional, até o momento, pelo menos, certamente dificultou minha aquisição de uma cópia para mim. Podia, obviamente, ter adquirido uma edição digital mas admito que ainda não me converti para o formato… e creio que nunca me converterei por completo. Mas esta realidade mudou quando encontrei uma edição importada em um sebo. Ah, os sebos! Sempre nos salvando…

Quando me vi de posse de obra de Dan Simmons em mãos, rapidamente resolvi “furar a fila” de leitura e deixar Hyperion passar a frente de outros. Gostaria de deixar claro que nem minhas muitas décadas como leitor de ficção científica e fantasia nem as altíssimas recomendações que encontrei pela internet puderam me preparar para a jornada que estava a minha frente. Escrevo esta resenha algumas semanas após o termino de minha leitura; necessitava de tempo para poder digerir tudo que vivi enquanto segurava o livro em mãos. Ter uma cópia antiga, com o cheiro do sebo certamente ampliou minha experiência.

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De pronto devo colocar que Hyperion não é uma “ficção científica menor”, que será lida e esquecida em pouco tempo. Muito pelo contrário, será parte de sua memória literária por anos a fio! Provavelmente pelo resto de sua vida. Em Hyperion, Dan Simmons nos entrega diversas pequenas histórias de pessoas diferentes e desconexas, enquanto peregrinam para as Tumbas Temporais do planeta Hyperion. Os sete peregrinos são Lenar Hoyt, um padre católico; o Coronel Fredmahn Kassad; Martin Seleneus, um poeta; o professor judeu Sol Weintaub e sua pequena filha Rachel; a detetive Brawne Lamia; o capitão na nave templária Het Masteen e o misterioso Consul.

Cada personagem tem um motivo particular para participar da peregrinação, e no decorrer da viagem até as Tumbas Temporais devem contar suas histórias afim de descobrirem uma maneira de sobreviverem a viagem. O paralelo com “Contos da Cantuária” ou “Os Contos de Canterbury” [The Canterburry Tales] de Geofrey Chaucer é inevitável. O que coloca a obra de Chaucer mais a frente em minha fila de leituras, apoiado por The Expanse e sua nave Canterbury loco no começo. – “Lembre-se da Cant

Dan Simmons tem um background em literatura inglesa que claramente se faz presente na obra. Hyperion é repleto de referências literárias espalhadas por todo o livro, a começar pela estrutura narrativa que referencia a obra de Geofrey Chaucer, passando pela mitologia grega com os Lotófagos e finalmente chegando a poesia de John Keets, com a qual a obra de Simmons compartilha o título.

Hyperion é um exemplo claro de meta-ficção. Não a meta ficção comum onde o personagem quebra a quarta barreira e pisca para a câmera mas uma meta-ficção do mais alto nível, transportando partes de nosso mundo comum para o universo narrativo e consequentemente tornando o oposto altamente plausível. Hyperion é uma história de histórias. São pessoas contanto partes de suas vidas para outras pessoas, e a nós por tabela. Mas prepare-se para ter seu cérebro torcido! Logo a primeira história, do Padre Hoyt, nos é apresentada uma história dentro de outra, visto que o Padre só pode fazer sentido de sua história ao ler de um diário de outra pessoa. Logo de cara temos duas linhas narrativas… e Hyperion não para por ai.

A prosa de Dan Simmons é exemplar! É simplesmente uma delícia de ler. Por serem diversos personagens narrando suas histórias, Simmons muda a maneira como escreve afim de entregar uma experiência única para cada um dos peregrinos. Minha história preferida é a do Poeta, onde os músculos literários de Simmons se avolumam. Mas é minha história preferida pela maneira como ele escreve, não necessariamente por ser a história mais interessante. Esta é claro a história do professor.

Dan Simmons não somente criou um excelente sci-fi, que diverte e entretém de forma somente comparável aos grandes clássicos da ficção científica, mas nos entregou uma incrível viagem literária, tanto em sua prosa e forma, como na viagem posterior a leitura, indo atrás de todas as referências que você pegou, ou das que não conhece ainda.

Hyperion tem espaço para todos os gostos de ficção científica. Gosta de Ficção Científica Militar? O Conto do Soldado é para você. História de investigação com clima de filmes noir num cenário cyberpunk? O Conto da Deterive é um prato cheio. É justamente aqui é o background literário de Simmons se mostra amplo, permitindo que cada história se desenvolva a sua própria maneira tomando diversas formas. As referências literárias podem até mesmo se tornar “releituras” como “O Curioso caso de Benjamin Button” de 1922 de F. Scott Fitzgerald que aqui toma uma “forma sci-fi”.

Cada conto toma forma de um estilo de escrita, adotando todas as características do gênero em particular. Adota tanto as características boas quando as… não tão boas. Mas esse detalhe ao contrário de diminuir o texto, o engrandece entregando uma experiência mais autêntica em cima daquele estilo literário em si.

A meta-ficção de Hyperion coloca John Keets, o poeta, como um personagem na história pregressa de um dos personagens. O poema de Keets, Hyperion, foi publicado pela primeira vez na “Lamia, Isabela, A Noite de St. Agnes e Outros Poemas“, “Lamia” da nome a personagem da detetive. Hyperion de Keets é um poema inacabado, fato este que conversa com o tema da história da detetive. O poema de Keets narra a Titanomaquia, a guerra entre os titãs e os deuses olímpicos, tema este que mantém paralelos com a história geral da obra de Simmons.

Vale lembrar que John Keets fazia parte da segunda geração de poetas românticos, juntamente com Lord Byron e Percy Bysshe Shelley, marido de Mary Shelley, escritora de Frankenstein e mãe incontestável da ficção científica. O Romancismo foi um movimento cultural que enfatizava as emoções e o individualismo, assim como a glorificação da natureza e do passado, sendo parcialmente uma reação a Revolução Industrial. A temática do antigo contra o novo faz parte das narrativas tanto do Hyperion de Simmons quanto de Keets.

Dan Simmons não segura nossa mão em nenhum ponto da história de Hyperion. Se você esperar por uma explicação da linguagem e das terminologias utilizadas para descrever a cultura da humanidade neste vigésimo nono século, você está caminhando para uma grande decepção! Não existe explicação nenhuma, não existe um glossário ao final do livro para que você possa se apoiar e não existe diálogos expositórios de contextualização. E nada disso atrapalha a leitura ou sua compreensão do universo. Com o passar das páginas, você começa a absorver o universo e tudo passa a ser uma segunda natureza para você.

É de extrema importância que se preste o mais alto nível de atenção durante a leitura. Muitos detalhes podem passar despercebidos o que levaria a confusão. E acredite, você não quer ficar perdido em um livro com tantas linhas narrativas como este. Hyperion é um livro que cobra de você, mas entrega uma recompensa enorme para os que se dedicam a ele. Eu mesmo devo admitir que não estava preparado para o livro que estava lendo. Muito de Hyperion, especificamente a história do peota John Keets, eu só aproveitei após a leitura.

Por questões editoriais, Hyperion foi dividido em dois volumes (compondo o “Hyperion Cantos“), Hyperion e A Queda de Hyperion [The Fall of Hyperion] – título de outro poema de John Keets onde ele revisita os mesmos temas do primeiro inacabado.

Hyperion tem um final que “quase não é um final“. Mas não é simplesmente um final aberto. Ele fecha a história de maneira impecável, com a mesma melodia que toou durante o livro todo, porém em um tom diferente. Esta história a respeito de histórias, referenciando sempre obras literárias, termina referenciando uma obra cinematográfica que também conta uma história sobre pessoas em uma peregrinação de autoconhecimento: O Mágico de Oz. O final do livro fecha com chave de outro esta obra que rapidamente se tornou uma de minhas favoritas. Se você nunca ler A Queda de Hyperion, este final é o bastante. Mas é também um belo gancho para o próximo volume.

A Queda de Hyperion me espera…

Assista a resenha de Hyperion de Dan Simmons em vídeo:

Resenha de Hyperion, Dan Simmons
Hyperion, Dan Simmons
  • História
  • Escrita
  • Diversão
  • Idéias Originais
4.4

Hyperion de Dan Simmons

Prepare-se para ter seu cérebro torcido das mais diferentes maneiras enquanto acompanhamos um grupo de peregrinos em sua jornada até as Tumbas Temporais em Hyperion em uma narrativa multi gênero, onde cada capítulo é visto pela perspectiva de um personagem diferente.

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Newton Uzeda

Newton Uzeda, o Terceiro de seu Nome, Viajante de muitos Mundos, Sonhador de Fantasia, Leitor de Sci-fi, o Desafiador da Máquina, o Colecionador de Mundos, o "Último dos Renascentistas", Guardião de Histórias e o Questionador de Autoridades.

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