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Star Trek: Discovery – Se não falha a memória

Star Trek: Discovery – Se não falha a memória

Se não falha a memória” nos leva de volta a Talos IV, planeta que apareceu pela primeira vez no episódio piloto que foi rejeitado por ser “muito cabeça”, A Jaula” [The Cage]. O Planeta, assim como os Talosianos nativos, apareceriam novamente em A Coleção” [The Menagerie], como uma forma de aproveitar o episódio gravado, trazendo o Capitão Christopher Pike para dentro da mitologia de Jornada nas Estrelas oficialmente. Desta vez, Michael Burnham terá que levar seu irmão Spock para que os Talosianos possam ajuda-lo a organizar suas memórias após sua fusão mental com o Anjo Vermelho. Vamos olhar mais de perto.

Se não Falha a Memória

Este é o oitavo episódio da segunda temporada de Star Trek Discovery, e ele começa de uma maneira peculiar. Ele começa com “Anteriormente em Star Trek”, trazendo a tipologia da série clássica e uma montagem de cenas do primeiro episódio piloto de Jornada nas Estrelas, nos mostrando um pouco do que aconteceu no episódio, tudo bem carregado na nostalgia fazendo os fãs antigos abrirem os olhos. A montagem termina com o Pike de Jeffrey Hunter olhando para o infinito, e corta para o Pike de Anson Mount em uma posição similar. Um corte bem esperto que se beneficia da semelhança dos dois atores.

Burnham chega a Talos IV, e de cara temos a confirmação que Vina, originalmente interpretada por Susan Oliver, está no episódio. A nova Vina, interpretada por Melissa George, entra na nave auxiliar que trouxe o casal de irmãos, com um vestido curto cinza / prateado remetendo ao figurido usado por Oliver meio século atrás. Mas está é uma Vina estranha, triste de uma certa maneira.

Mais tarde, quando a vemos falando com Pike, ela diz que não está acostumada com ele “se assustar” com ela, deixando claro que ela sabe que o Pike que vive com ela é uma ilusão. Bom, aqui temos uma questão: Ao final de “A Jaula”, Vina não sabe que o Pike que fica com ela é uma ilusão, para ela ele é real. Pike por sua vez a vê caminhando de mãos dadas com seu doppelganger ilusória, enquanto o Talosiano lhe diz:

Ela tem uma ilusão e você tem a realidade, que seu caminho seja tão agradável quanto o dela” – O Guardião, em A Jaula [The Cage]

Pela maneira que encontramos Vina neste episódio, parece que a ilusão dela não foi tão agradável assim. O que aconteceu nestes anos que separam os dois episódios? Como e por que ela descobriu que aquele Pike não era o verdadeiro? Infelizmente estas perguntas não são abordadas pelo episódio.

Voltando a missão principal: Colocar a cachola de Spock em ordem. O episódio nos mostra que Spock, tipicamente, resolveu fazer uma fusão mental com o Anjo Vermelho e neste momento recebeu informações sobre o futuro. “Memórias do Futuro” como o episódio espertamente denomina. Quando isso acontece Spock perde a capacidade de saber a ordem dos acontecimentos o que o deixa em um estado análogo a insanidade.

Claro que o nível dessa insanidade varia de acordo com a necessidade do roteirista. Ele teve a cabeça boa o bastante para conseguir fugir do hospital onde ele se internou de livre e espontânea vontade, mas depois, quando o encontramos sob a guarda de Amanda, sua mãe interpretada por Mia Kirshner, ele está basicamente sem controle ou noção de onde está nem está consciente do que acontece ao seu redor balbuciando inteligivelmente. Neste episódio ele já está super contido e consciente ao ponto de saber que o Buraco Negro ao redor de Talos IV é apenas uma ilusão, e tem controle o bastante de seu corpo para empurrar a mão de Burnham dos controles da nave para direciona-la para a rota correta. Muito conveniente para os roteiristas.

Quando os Talosianos informam que eles precisam que Burnham empreste sua mente para que possam organizar a mente de Spock, mais uma vez temos a certeza que nada neste universo de Discovery aconteceria se Burnham não existisse. Voltamos nisso daqui a pouco.

Aqui temos mais uma montagem de cenas sobre o passado dos dois irmãos e seus conflitos familiares, nos mostrando alguns dos motivos da separação dos dois e subsequentemente de Spock e Sarek. Burnham é a força motriz que afastou Spock de seu lado humano, fazendo com que ele se fixasse em seu lado vulcano lógico. Esta cena é muito bem dirigida! Alternando entre os atores adultos e crianças dos dois personagens enquanto a discussão deles toma corpo. Uma cena forte, com uma direção precisa e certeira.

Mas tem uma coisa que me incomoda com a trama principal: É sério que o Spock não conseguiu absorver o conceito do efeito vir antes da causa. Já vimos Spock lidar com os mais complexos desafios lógicos sem nem ao menos pestanejar, e agora o vemos precisar de um “mapa”, que obviamente é a mente de Burnham, para que possa organizar os eventos dentro de sua mente. Mas vamos lá, ainda existe a esperança que nem tudo que vimos no episódio seja o que Spock recebeu de informação.

Quem é o Anjo Vermelho?

Este episódio me passa a impressão que já temos as informações necessárias para saber quem é o tão misterioso Anjo Vermelho. O que sabemos sobre ele?

  • O Anjo Vermelho apareceu pela primeira vez para Spock, na noite em que Michael Burnham fugiria de casa e morreria. O Anjo aparece, modificando os acontecimentos e permitindo que Burnham fosse salva.
  • O Anjo Vermelho sempre aparece e modifica acontecimentos, “tornando certo os errados”. Como se estivesse tentando arrumar alguma coisa. Talvez a própria linha do tempo?
  • O Anjo Vermelho é Humano, e usa uma roupa que possibilita a viagem no tempo. Esta roupa tem asas mecânicas. Atraves da Rede Micelial?
  • O Anjo Vermelho tem uma silhueta feminina. Muito provável que seja uma mulher.

Através destes fatos, e sabendo que o showrunner da série, Alex Kurtzman, tende a sempre criar “universos paralelos” em suas histórias e aliando a preferência narrativa da série sempre colocar Michael Burnham no centro de tudo que acontece; podemos levantar a hipótese, praticamente certeira que, o Anjo Vermelho é Michael Burnham.

Discutiremos isso em mais detalhes em um outro texto, aqui em breve.

Tyler e Culber

Enquanto a história principal do episódio não me encantou como esperado, a história secundária me chamou muito a atenção! Existe um conflito entre Tyler e Culber. Para quem não se lembra, Tyler, enquanto Voq, matou o Dr. Culber. O que torna este conflito tão interessante, é o fato dos dois personagens terem conflitos internos muito próximos, para não dizer iguais!

Tyler é um Klingon, que teve seu corpo cirurgicamente modificado para se parecer um Humano, e teve sua mente modificada com a inserção das memórias de um oficial da Frota Estelar chamado Tyler, para que seu disfarce fosse perfeito. Ele estava como um “agente adormecido” que seria ativado quando a hora certa chegasse. Depois que esta trama toda se desenrolou, com o Dr. Culber sendo morto no processo, Voq é “desligado” e a mente de Tyler se torna a mente dominante do corpo. Tyler tem as memórias dos dois, mas ele não é nem um, nem outro. Ele é uma pessoa fora de seu corpo.

Dr. Culber foi morto, e acabou sendo transportado para dentro da rede micelial, onde passou meses, se é que o tempo lá passa no mesmo ritmo que o nosso, sendo perseguido e machucado pela rede micelial. Quando ele é trazido de volta para o universo normal, a consciência dele é colocada em um novo corpo, idêntico ao dele, mas ainda sim ele sente como se estivesse num corpo errado. Ele não sente nada e não consegue se relacionar com as memórias que existem na mente dele. Ele é uma pessoa fora de seu corpo.

Os dois estão enfrentando o mesmo problema, de maneiras diferentes, mas o conflito é o mesmo. Quando Culber vai tirar satisfação com Tyler, ele não está brigando exatamente com ele. Ele quer sentir alguma coisa, como podemos ver depois que ele se recusa a fazer um curativo em sua mão machucada. O machucado da mão é a única coisa que ele sente. Enquanto sangramos estamos vivos. Tyler ainda pergunta para ele, se ele sabe com quem ele está brigando. Resposta que fica espertamente no ar. Nenhum dos dois sabe.

Este é o conflito de personagem mais interessante que Discovery nos proporcionou até agora. Um conflito psicológico que pode ser aprofundado tanto quanto os roteiristas quiserem. Estou mais ansioso para ver esta história, que a história principal da segunda temporada.

Culber que foi paupérrimamente utilizado na primeira temporada, retorna agora como um personagem forte e interessante, que pode colocar um movimento ainda não visto na série. Realmente muito bom.

Veja nossos pensamentos em vídeo

Pensamentos Soltos no Espaço

  • Porque diabos a nave auxiliar tem teletransporte?
  • O Buraco Negro Ilusório ao redor de Talos IV precisava mesmo ser uma cópia do buraco negro de Interestelar [Interstellar, Christopher Nolan; 2014]?
  • Uma pena que não tivemos a oportunidade de ver Pike e Vina juntos fisicamente. Eles só se veem por ilusões.
  • Os Talosianos são os Desfragmentadores de Disco da galáxia, é isso?

Ficha Técnica

Roteiro: Dan Dworkin e Jay Beattie
Direção: T. J. Scott
Estreia: 08 de março de 2019

Veja mais Star Trek: Discovery em:

Episódio Anterior: Luz e Sombras

Próximo Episódio: Projeto Daedalus

Newton Uzeda

Newton Uzeda, o Terceiro de seu Nome, Viajante de muitos Mundos, Sonhador de Fantasia, Leitor de Sci-fi, o Desafiador da Máquina, o Colecionador de Mundos, o "Último dos Renascentistas", Guardião de Histórias e o Questionador de Autoridades.

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