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Star Trek Discovery – Anjo Vermelho

Star Trek Discovery – Anjo Vermelho

O décimo primeiro episódio da segunda temporada de Star Trek Discovery chegou, e carregando o título de “Anjo Vermelho”, finalmente teremos uma resposta sobre quem está por trás da misteriosa roupa com asas mecânicas que viaja pelo tempo modificando acontecimentos a sua vontate! Bem… Não. Como sempre, em Discovery, nada é tão fácil assim. Vamos olhar mais de perto e analisar este episódio, que trás mais dúvidas que respostas…

Anjo Vermelho

Anjo Vermelho” começa a todo vapor nos jogando na cara que a entidade viajante temporal é na verdade, prepare-se: Michael Burnham. Como esperado, e verbalizado pela finada Airiam, tudo gira em torno do umbigo de Burnham. Tilly, depois de alguns minutos de divagação sobre as portas automáticas da nave, informa que existia um arquivo dentro do backup das memórias de Airiam, implantado por um “parasita digital”, chamado “Projeto Dédalo”, contendo uma “Assinatura Bio-Neural do Anjo Vermelho”, e termina dizendo uma frase que deveria ser o Slogan da série: “Michael, é Você!”. Claro que é, como não seria?

A partir desta informação o episódio segue toda uma preparação para a captura do Anjo Vermelho, que ninguém sabe porque não foi feito antes. Mas agora que sabemos quem é o misterioso Anjo, e pretendemos captura-lo. A ação lógica seria manter a versão presente afastada da elaboração do plano, afim de não permitir que a informação chegue a iteração futura dela. Mas não lidamos com lógica por aqui, e com Burnham exigindo seu direito de impor sua presença em todas as cenas, ela participa da elaboração do bendito plano.

O plano é simples, iremos usar a atmosfera tóxica do planeta para matar Burnham, atraindo assim o Anjo para salva-la no último segundo. Infelizmente o plano falha e Burnham continua viva, mas o Anjo é capturado graças a estratégia ensinada pelo Dr. Venkman e seus amigos Caça-Fantasmas.

Paralelo a isso, Spock “argumenta” com o phaser apontado para todos, que Burnham tem que morrer! Eu concordo Spock, mas não havia nenhuma outra forma de argumentação? O que aconteceu com sua classe? Parece que escrever diálogos é uma arte que caiu no esquecimento. Agora tudo mundo saca as armas para impor seu ponto de vista. Vale notar que as mesmas pessoas sendo coagidas por Spock, são as que concordaram com o plano em primeira instância.

Spock e seu Phaser… digo argumento.

Por fim, temos a revelação que o viajante temporal, é a mãe de Michael, ou pelo menos é isso que o episódio quer deixar subentendido. Ele termina com Burnham questionando sobre a identidade da pessoa que saiu de dentro da roupa do Anjo Vermelho. “Mãe?” Diz ela incrédula. Mas o que isso quer realmente dizer?

Eu não acho que seja a mãe da Michael. Em primeiro lugar, eu vejo a possibilidade de ser a própria Michael mais velha, visto que a “Assinatura Bio-Neural” comentada no início do episódio garante, sem margem de erro, que é ela o Anjo Vermelho. Tudo bem Discovery não ter intenção de se manter alinhada com as séries antigas de Jornada nas Estrelas, mas pelo menos seria interessante se ela se mantivesse fiel ao que escreveu no começo do episódio.

Temos então algumas alternativas, sendo a primeira delas Burnham ser um clone da mãe dela, o que justificaria a diferença de idade e, aqui já entrando dentro do universo das especulações, talvez possa justificar Michael ter sido criada longe da mãe. É possível que o processo de clonagem tenha sido algum projeto da Seção 31, feito por baixo dos panos. Dado que a presença da Seção 31 é cada vez maior na série, é possível argumentar que tudo está, de certa forma, ligado com ela. Assim como com Burnham.

Outra alternativa um pouco mais complexa, que portando exigiria roteiristas mais experientes, seria Burnham ser sua própria mãe. Algo como “The Man Who Folded Himself”, (O Homem que Dobrou a Si Mesmo, em tradução livre), de David Gerrold, que por sinal é um grande roteirista de Jornada nas Estrelas. O livro de 1973, concorreu no ano seguinte aos Prêmios Hugo e Nébula na categoria de “Melhor Livro”.

O livro conta a história de Daniel Eakins, que ganha de seu tio um “cinto de viagem no tempo”, e começa a viajar por diferentes épocas e interagindo com ele mesmo em diversos estágios de sua vida, até encontrar com uma versão espelhada dele mesmo, Donna. Os dois tem um relacionamento e Daniel engravida a sua versão feminina. Donna vai ao futuro para garantir que nasçam dois filhos, uma menino e uma menina, e depois disso ela some. Daniel então percebe que ele se tornou seu Tio e que seu filho é ele mesmo. Ele percebe que o ciclo de sua vida está completo, e começa a trabalhar para garantir que seu filho, ou ele mesmo, receba o cinto de viagem no tempo.

Gavid Gerrold

Gerrold escreveu “Problemas aos Pingos” [The Trouble With Tribbles], indicado aos Prêmios Hugo e Nébula por “Melhor Apresentação Dramática” e sua continuação animada, “Mais Pingos, Mais Problemas” [More Touble, More Tribbles] assim como “Bem” [Bem]. Escreveu o argumento para “Os Guardiões das Nuvens” [The Coub Minders] e escreveu o último tratamento do roteiro de “Eu, Mudd” [I, Mudd], sem receber os créditos pelo trabalho. Tem 7 livros sobre o universo de Jornada nas Estrelas, escreveu o episódio da primeira temporada de Babylon 5, “Believers” e tem um corpo de obras invejável.

Duas Obras notáveis de Gerrold:

  • The Martian Child (A Criança Marciana), uma novella de 1994, originalmente publicada na revista Fantasy & Science Fiction, ganhou em 1995 ganhou os Prêmios Hugo e Locus por “melhor novella”, foi nominado para o Prêmio Theodore Sturgeon por “Melhor Conto de Ficção”. Em 2007, ganhou uma adaptação para o cinema com John Cusack no papel principal.
  • The War Agains Cthorr (A Guerra contra Cthorr) foi originalmente planejada como uma trilogia, mas à medida que a história se tornou mais complexa, Gerrold percebeu que três livros não seriam suficientes para contar a história inteira. Por um tempo, ele não tinha certeza de quantos livros haveria no final, mas finalmente estabeleceu uma heptalogia. Até 2018, quatro livros foram concluídos. A partir de 2017, um quinto e um sexto estavam em andamento, 24 anos após a publicação do quarto livro. O universo de Cthorr foi adaptado para o RPG da Steve Jackson Games, GURPS, no livro de C.J. CarellaGURPS: The War Agains Cthorr”.

Michael Burnham tem que morrer!

Me parece que os Showrunners pretendem manter esta dúvida de “Discovery é ou não é Star Trek”, até a situação legal entre as duas empresas detentoras da franquia se decidir. Caso as empresas se mantenham separadas, elas continuam nesse “universo alternativo não declarado”, mas caso as empresas se fundam e a franquia volte a ficar sob um teto único, eles justificam que a presença de Michael Burnham modificou a linha temporal, matam a personagem e tudo volta a ser uma linha do tempo coesa.

Enquanto estamos discutindo dentro do universo ficcional, usando argumentos sobre o que é canônico e o que não é, a guerra está sendo travada em outro campo de batalha, longe dos olhos dos fãs.

O Cérebro de Airiam

Parece que não temos respeito por mais nada. Nem pela memória dos mortos.

No começo do episódio, vemos as memórias de Airian sendo apagadas de seu cérebro eletrônico, o que me deixou com um certo incômodo. Eu entendo o argumento de que o cérebro poderia conter informações sigilosas sobre a Federação, que poderiam cair em mãos erradas. Mas eu acho que esta atitude abre um precedente preocupante no universo de Jornada.

Caso nós tivéssemos a tecnologia necessária para acessar as memórias de um cérebro biológico, nos iríamos apagar as memórias de todos os nossos mortos antes do sepultamento, ou qualquer outra cerimônia cabível, afim de evitar que outros possam se aproveitar do corpo para conseguir informações? Não seria, o ato de apagar as memórias, uma invasão da privacidade e individualidade da pessoa falecida?

Isso me incomodou severamente. Não acredito que volte a ser abordado na série, mas o precedente está lá, para ser utilizado por qualquer roteirista no futuro, bom ou mal.

Pensamentos soltos no espaço

  • Eu tenho saudades da época em que Spock fazia valer a sua vontade através da retórica e da argumentação, não na ponta da bala.
  • Como que o Anjo Vermelho ressuscita Burnham? Aquele raio foi um desfibrilador futurista, uma manifestação do “Cristal do Tempo” ou simplesmente um intervenção divina?
  • A Tilly realmente precisa enrolar 10 minutos, toda vez, antes de falar o que veio falar? O que começou sendo engraçadinho, está se tornando um incômodo.
  • Porque diabos foram instaladas lanças no leitor de retinas?
Pobre Leland, mal sabe ele…

Análise em vídeo de: Star Trek Discovery – O Anjo Vermelho

Discussão em vídeo sobre “O Anjo Vermelho”

Ficha Técnica

Direção: Hanelle M. Culpepper
Roteiro: Chris Silvestri e Anthony Maranville
Estreia: 22 de março de 2019

Veja mais Star Trek: Discovery em:

Episódio Anterior: Projeto Dédado [Deadalus Project]

Newton Uzeda

Newton Uzeda, o Terceiro de seu Nome, Viajante de muitos Mundos, Sonhador de Fantasia, Leitor de Sci-fi, o Desafiador da Máquina, o Colecionador de Mundos, o "Último dos Renascentistas", Guardião de Histórias e o Questionador de Autoridades.

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